Como escrever um bom texto de blog?

5 de dez. de 2024 · Evilasio Anisio

Dicas para fazer os leitores não pararem e pensarem “por quê diabos estou lendo isso?”

Como escrever um bom texto de blog?

E se você pudesse fazer alguém chorar de felicidade porque ela precisou ir até a segunda página do Google para finalmente achar o que estava procurando? Quando tudo parecia estar perdido (ela iria ter que clicar no “3”), lá estava: o que ela precisava. Que alívio. Não achava que ninguém teria escolhido gastar uma vida inteira para obter conhecimento sobre aquele tema super específico para agora sanar suas dúvidas fugazes.

E então, mais uma pessoa, logo dez, mil. E a sua postagem pula das últimas páginas do Google para a primeira, o fluxo de usuários não para de crescer, e você se torna um especialista reconhecido naquele assunto.

Colegas, no mundo de hoje, conteúdo é rei e saber se expressar rainha. E a ciência, mais que tudo, precisa de comunicação para se manter viva. Mas escrever – e aqui, hoje, um post de blog – envolve mais do que apenas juntar frases e relatar suas ideias. O trabalho começa antes mesmo de você colocar a primeira palavra no papel - começa com a compreensão do que seus leitores querem de você.

Entretanto, vamos com calma. Neste guia, longo, tratarei de descrever para você algumas das técnicas, ferramentas e pensamentos que agreguei ao longo de dois anos à frente do departamento de marketing de uma empresa júnior.

Aaaaihhnn, não vai mandar os slides? Tá. Aqui o resumo:

  • Seja claro e direto: Apresente o tema e sua relevância rapidamente.
  • Ofereça valor: Resolva problemas ou responda perguntas do leitor.
  • Mantenha um ritmo dinâmico: Use parágrafos curtos e frases diretas.
  • Evite jargões: Opte por uma linguagem acessível para atrair um público mais amplo.
  • Pronto, você adquiriu todo o conhecimento lendo esses 4 itens.


    Isso só pode ser coisa de chat GPT né?

    ACABOU. Inteligência artificial finalmente dominou toda a internet e o trabalho criativo. Ou não.

    Quando comecei a escrever conteúdos sobre Engenharia de Materiais, lá em 2021, o grande objetivo era conseguir captar projetos para executarmos. A Caracterizze, empresa júnior que fiz parte, surgiu em um momento de fragilidade mundial e precisava se posicionar numa área de pouca procura e que já era dominada por outras empresas juniores bem mais estruturadas da UFCG, UFPE e UFRN. Geograficamente, éramos cercados.

    Contudo, havia um pequeno grande gap para nós. Mesmo antigas, com diversas parcerias pelo Brasil e muito apoio institucional, nenhuma dessas EJs possuíam uma presença online forte. E se pudéssemos passar a escrever sobre temas de Ciência dos Materiais que tivessem algum link com os serviços que oferecemos? Afinal, se hoje você tem um problema, seus dedos te levam automaticamente para o Google. E você pesquisa.

    Se um aluno de doutorado está com um problema de calibração do microscópio eletrônico de varredura, o que acontece se ele encontra um artigo escrito discutindo o problema e com uma proposta tentadora no final? Por 1/10 da sua bolsa de doutorado, iremos fazer as imagens de microscópio das suas amostras.

    Pronto. Seu problema sumiu com um pequeno custo. E assim conseguimos colocar a nossa empresa no farol de faturamentos de empresas juniores do Brasil: utilizando nossa experiência para buscar identificar o que as pessoas precisam.

    Mas porque isso tudo está nessa seção? Bem, desde o final de 2022, milhões de ferramentas de escrita automática surgiram. Hoje é extremamente fácil abrir o chat GPT e pedir que ele escreva uma postagem de blog sobre problemas de calibração do microscópio eletrônico de varredura.

    E não entendam mal, não me coloco contra esses avanços tecnológicos. Eles são imensamente úteis para nós de muitas maneiras. Podem ajudar com a pesquisa bibliográfica e a construir melhores frases e parágrafos, mas o que elas não podem fazer ainda é escrever como você.

    Obviamente, você pode treiná-las para imitar seu tom, mas elas não têm sua experiência, nem sua capacidade de crescer e conectar informações das maneiras que só você pode. Só você possui suas experiências.

    Então, se você quer utilizar IA para te auxiliar na escrita, vá em frente. Mas tenha certeza de que seu texto soa como você, e não como um monte de alucinações textuais extremamente empolgadas. As informações devem ser precisas e devem vir de você ou de uma fonte confiável!

    Mãos à obra: hora de escrever e escrever e escrever…. mas exatamente o quê?

    Diferentemente de uma empresa júnior, não estamos querendo vender um serviço. Mas fortalecer a divulgação científica e a forma como nós nos comunicamos como futuros cientistas, professores e profissionais.

    E não queremos apenas compartilhar ideias científicas, mas agregar valor aos leitores para que eles possam compreender melhor sua situação e tomar decisões mais informadas sobre as suas plantas, o meio ambiente, a saúde, bem, sobre tudo.

    Assim, podemos classificar nossas postagens de blog em três grandes tipos:

  • Artigos de opinião, reflexão e editoriais — são uma ótima maneira de expressar pontos de vista e desenvolver uma discussão sobre um determinado assunto. Com esse tipo de postagem, podemos fazer os leitores refletirem sobre suas experiências;
  • Guias e tutoriais — são textos que buscam auxiliar os leitores a realizarem alguma tarefa ou que estão buscando alguma informação prática;
  • Estudos de caso e relatos — os mais pessoais e divertidos de se escrever, diria. Aqui você tem a oportunidade de compartilhar sua experiência pessoal, seu projeto de pesquisa, os desafios e soluções que você encontrou no caminho. Encoraje o leitor a participar ativamente!
  • Talvez tenha algum quarto ou quinto, mas focaremos nessas. Ao longo do processo de escrita, é fundamental ter em mente qual direcionamento você quer dar ao seu texto. Pense no que você quer que o leitor leve com ele ao fechar a página: é uma reflexão, uma nova habilidade, uma curiosidade? Isso irá ajudar a estruturar suas ideias de uma maneira mais eficaz.

    😉
    Sempre que possível, ofereça valor prático — seja informando, ensinando ou entretendo. Assim, o leitor sente que está ganhando algo ao continuar a leitura.

    Ok, agora posso começar a… NÃO! NÃO! NÃO!

    Ou sim. Se você já é uma autoridade no tema do seu texto, você pode pular essa parte.

    Mas raramente isso acontece. Para escrever um bom artigo científico, precisamos de um bom referencial teórico. Para escrever uma boa postagem de blog, precisamos fazer três coisas (é, três é um número recorrente por aqui).

    Identifique seu tema e Pesquise seu tema

    Não há muito o que se falar aqui. Veja o que as outras pessoas estão falando do seu tema, saiba os tópicos principais da conversa e que direção ela está tomando. É como fazer uma revisão bibliográfica, mas de maneira bem simples: usando o google.

    “Pra quê? tá, e daí?”

    Esse é um pensamento muito conhecido na escrita de blog, desenvolvido por Ann Handley, uma das influencers mais influentes do marketing. De forma bem resumida, um bom texto possui um objetivo e um motivo para se importar.

    Primeiro, a gente precisa definir um objetivo para o nosso texto. Então se pergunte: O que é que meu texto de blog faz? Ele introduz um novo conceito? Ele responde alguma dúvida que outras pessoas tem? Ele quer inspirar as pessoas a fazerem algo? Por exemplo:

    “Como identificar plantas?” — O objetivo dessa postagem é mostrar às pessoas como os biólogos tradicionalmente identificam espécies vegetais.

    Ok, e daí? Por que os leitores deveriam se importar com isso? Um dos maiores erros que cometemos enquanto estamos escrevendo é se prender às coisas com que nos importamos e desconsiderar aquilo que importa aos leitores. Precisamos exercitar um pouco de empatia e se colocar no lugar do outro.

    Portanto, respondemos essa parte para identificar as partes que nós pensamos ser interessantes, para então criar um texto que sirva aos nossos leitores.  Vamos lá:

    Como identificar plantas? — O objetivo dessa postagem é mostrar às pessoas como os biólogos tradicionalmente identificam espécies vegetais.

    Podemos continuar nos perguntando “tá, e daí?” até a exaustão. Mas quanto mais fizermos isso, mais saberemos qual direção tomar com nosso texto e como convencer o nosso leitor.

    Feito isto, finalmente, podemos começar.

    Escrevendo o seu texto em seis etapas

    Quanto maior a sombra do degrau, mais difícil ele parece ser de escalar. Uma das maneiras mais fáceis de realizar uma tarefa é organizando ela em etapas menores e que permitem um progresso visível. É assim que conseguimos manter o foco e a motivação em uma determinada coisa.

    Com a escrita é a mesma coisa. Essas seis etapas irão ajudar a você transformar a montanha que é colocar suas idéias em papel em sei lá o que é mais fácil. Não consegui terminar, mas deu pra entender.

    Escreva um esboço

    Se você seguiu a etapa anterior antes de começar a escrita, você percebeu que (quase) todos os tópicos a serem abordados pelo seu texto foram identificados pelos “Tá, e daí?”. Não há uma maneira certa de montar um esboço, mas uma dica é criar uma checklist com os principais pontos de discussão. Tente organizar eles por ordem de importância ou lógica para garantir que seu texto possua fluidez. Se você não está conseguindo fazer isso, pode tentar seguir o modelo abaixo:

    1. Introdução ao Tema

    2. Desenvolvimento dos Argumentos

    3. Conexões e Implicações

    4. Considerações Finais

    Mas uma coisa é importante: não se prenda ao seu esboço, afinal, é apenas uma estrutura bruta do seu texto. E ninguém precisa saber como ela é.

    Dê um título chamativo

    Não precisa apelar para o clickbait. E nem ser sorrateiro. E nem prometer o que não vai cumprir. Sem enigmas por favor. Ah, e se ele não pode ser lido sem pausa para respirar, não é bom.

    Alguns recomendam dar o título da sua magnum opus antes de escrevê-la, outros, sugerem finalizar tudo com o título — de maneira dramática, com explosões. Eu costumo ter um título provisório em mente para orientar o formato do texto, mas que muitas vezes é ajustado conforme vou trabalhando.

    O que é mais importante, é que um bom título precisa prometer ao seu leitor algo. Precisa capturar sua atenção rapidamente, para que seu cérebro, viciado em rolagem infinita, não abandone a página. Um bom título desperta curiosidade. Irei listar dicas de uma notícia da Nature de 2020, e que tenho buscado utilizar desde então.

    Um bom título evita jargão técnico

    Embora você fique inclinado a utilizá-los (afinal, está fazendo divulgação científica!), o uso de termos técnicos dificulta que leitores leigos – a maioria do seu público – entendam o conteúdo facilmente. Para criar um título, busque resumir o objetivo principal do seu texto em um breve parágrafo.

    Então, resuma esse parágrafo para torná-lo conciso, mas descritivo. Continue esse processo até que seu título tenha 10 - 15 palavras. Outra maneira é pensar na questão que você está respondendo e repetir os outros passos.

    Um bom título é fácil de ser pesquisado

    Há uma coisa que marketeiros digitais são viciados, e ela se chama Search Engine Optimization, ou SEO para os pertubados. São nada mais que um conjunto de otimizações que você pode aplicar ao seu conteúdo para torná-lo mais atrativo e assim se classificar no topo dos mecanismos de busca.

    O divertido é que SEO pode se tornar uma pseudociência. O SEO é real. É complicado. Eu conheço um cara que sabe mexer nisso, é sobre "qualidade". Você precisa de um especialista de verdade. Me contrate. Compre meu curso.

    Não vamos nos adentrar nesse mundo, o que precisamos entender aqui é que um título bom possui palavras-chaves relevantes para o tema. Como encontrar essas palavras-chaves? Bem, há várias ferramentas para isso. Mas você pode simplesmente pesquisar seu tema no Google e observar o que mais aparece!

    Um bom título é fundamentado por fontes!

    CHEGA DE CLICKBAITS. Não faça afirmações infundadas no seu título para chamar a atenção. Você deve ser honesto consigo mesmo e com a sua audiência. Queremos despertar o interesse nas pessoas de forma genuína, e, fazendo divulgação científica, queremos que as pessoas valorizem o conteúdo baseado em evidências.

    Escreva um anzol de primeiro parágrafo e fisgue seu leitor

    Ótimo. Você conseguiu capturar a atenção do leitor com seu título, e agora você precisa fidelizar essa atenção com a primeira frase. Uma boa introdução de um texto faz três coisas:

  • Apresenta o tópico tema do texto;
  • Esclarece o que o leitor conseguirá fazer ao ler o texto;
  • Mostra por quê o leitor deveria confiar naquele texto.
  • Parece difícil, mas você consegue fazer isso facilmente. Tomando o nosso tema anterior “Como identificar plantas?”, por exemplo:

    “Aprender a identificar plantas pode parecer um desafio, afinal, são tantas. Mas é uma habilidade que qualquer pessoa pode desenvolver com um pouco de prática e os recursos certos. Então, como nós, biólogos botânicos, fazemos?”

    Veja só. Começo mencionando o tópico (identificar plantas), mostro ao leitor o que ele conseguirá fazer depois (desenvolver a habilidade de identificar plantas) e estabeleço a minha autoridade (biólogo botânico). E se eu não for um biólogo formado? Como eu faço?

    Será ótimo se pudermos utilizar nossa experiência (e aqui, não só a formal) para estabelecer autoridade naquele tema, mas outra maneira de fazê-la é com dados. E esses dados também são uma forma de agregar valor ao próprio tópico. Então, da mesma forma que fazemos ao escrever um artigo científico, busque referências boas.

    Escreva o corpo do texto

    É a hora de você se soltar e dar a cara ao seu artigo. E como toda habilidade, escrever se torna mais fácil e natural quanto mais você faz. Não há bem um atalho que você possa aprender para se tornar o Tolkien moderno. Mas considere o seguinte:

    Quebre seu conteúdo em seções. Use títulos e subtítulos para isso. Deixe os parágrafos menores para evitar que pareçam monótonos e diminua o uso de jargões e voz passiva. Não adicione apenas conteúdo para dar volume ao seu texto. Seus leitores não são idiotas.

    Use elementos visuais. Imagens, vídeos, infográficos aliviam a tensão do seu texto e podem dar suporte à compreensão dele. Listas também são interessantes de serem incorporadas, mas apenas quando se encaixam.

    Mantenha as coisas coloquiais. MAS SÓ SE VOCÊ ESTIVER ESCREVENDO PARA UM BLOG. Nesse caso, usar um tom amigável ajuda a criar uma conexão com os leitores. Então não tenha medo de falar diretamente com eles, imagine uma conversa.

    Faça um call-to-action. Instigar os leitores a fazerem algo depois de lerem seu texto é sempre interessante, ainda mais se seu objetivo for oferecer um produto ou serviço. Como estamos fazendo divulgação científica, pense em formas de engajar mais o seu público com aquele tema.

    E agora, a parte mais chata.

    Edite seu texto

    Primeiramente, saiba que é tedioso e toma muito tempo. Segundamente, saiba que é extremamente importante. Comece passando seu texto em um corretor ortográfico e em um corretor gramatical também (há vários desses pela internet, incluindo o Google Docs!). E não acaba por aí.

    A gente acaba pensando “edição” como simplesmente riscar as frases que não estão bonitinhas e arrumar os erros de linguagem. Mas mais que isso, editar seu texto é prezar pela

    COESÃO.

    Então, aqui, algumas dicas de como melhorar a coesão do seu texto e deixá-lo mais fluído aos olhos dos leitores.

    Evite repetições desnecessárias

    Se há uma maneira de tirar toda a atenção do leitor para a sua ideia é repetindo palavras. Aqui os sinônimos serão os seus melhores amigos. Depois de terminar o primeiro rascunho do seu texto, leia-o e verifique se há palavras que podem ser substituídas.

    Leia seu texto em voz alta

    Isso aqui você irá ouvir (hehehe) em qualquer curso, workshop ou oficina de escrita. Se seu texto parece estranho ao ser lido em voz alta, ele parecerá estranho na mente do leitor. Leia em voz alta para identificar gargalos e frases “artificiais”. Ficou difícil de ler uma frase? Reescreva-a até conseguir.

    Peça para alguém ler o seu texto

    Nada como uma experimentação in vivo para coletar informações importantes. Não sinta vergonha de pedir para um amigo ou colega ler o que você escreveu, afinal, você em breve irá publicar sua postagem para todos verem.

    Seus argumentos são bem compreendidos? Sua posição é clara? O seu texto leva o leitor a pensar? O conselho que você está oferecendo vale a pena ser seguido? Todas essas são perguntas que ter alguém lendo seu trabalho pode ajudar a responder.

    Por fim, publique!

    Clique no botãozinho que vai mandar seu texto para toda a internet. Sem pressão. E agora? O que fazer depois? Divulgue!


    Escrever é uma daquelas coisas que parecem fáceis até você, com um cronograma extremamente curto, precisar fazer. Escrever é uma habilidade que só pode ser adquirida com a prática. E lembre-se: um bom texto transmite uma ideia. Você escreve para seus leitores e não para você.